Todas as mulheres da minha família morrem aos 27 anos. Faço 28 em 2 horas e 32 minutos


Meu pai sempre quis um filho. Em vez disso, ele tem três filhas.

Ele odiava a todas nós, odiava minhas irmãs gêmeas, odiava minha mãe... Mas me odiava acima de tudo porque eu era a última filha que minha mãe teve antes de morrer. Isso não o impediu de me tratar como seu garotinho, não o impediu de tentar derrotar o ódio do meu próprio gênero em mim. Pare de chorar, ele dizia, ou você acabará como a vadia chorona da sua mãeDepois de anos dessa merda, ele ainda ficou chocado que eu cresci como uma tomboy.

Acho que ele me odiava ainda mais porque eu era apenas um lembrete constante do que ele nunca teve.

Minha mãe morreu quando tinha apenas 27 anos, e eu tinha quatro. O médico legista considerou sua morte como natural, uma estranha complicação no coração que a matou durante o sono. Meu pai, no entanto, diz que foi por causa da maldição da família dela. Sempre que eu o procurava, desesperada por mais informações sobre uma mãe que nunca conheci, ele nunca tinha muito a dizer. Estou convencida de que ele estava bêbado desde o dia que ela morreu. Toda mulher em sua maldita família morre aos 27 anos, ele cuspia entre arrotos, seu hálito cheirando a cerveja rançosa.

Eu acho que a verdadeira maldição é que minha mãe foi quem morreu, e não ele.

Eu não estava totalmente convencida pelas divagações de um homem perpetuamente bêbado, mas quando perdi minhas duas irmãs apenas alguns meses antes do vigésimo oitavo aniversário, sabia que não poderia ser uma coincidência. Moira foi assassinada, seu rosto praticamente explodido por um atirador enquanto ela estava correndo. Joy tirou a própria vida apenas alguns dias depois. Fui eu quem a encontrou, pendurada no quarto do seu apartamento quando fui buscá-la para o funeral de Moira. Ela estava lá, balançando entres as vigas durante toda a noite.

É difícil viver uma vida normal quando você sabe que tem uma data de validade, especialmente quando ela abrange um ano inteiro. Eu sempre tive medo do meu aniversário, que desde a tenra idade se associou menos a diversão e bolo e mais a preocupações, caixões e coisas fúnebres. Mas, depois que Moira e Joy morreram, meu próximo aniversário - de 25 anos - foi o dia mais terrível da minha vida. 26 foi pior, 27 inimaginável.

É isso, pensei enquanto fechava todas as persianas do meu apartamento, bebendo a última gota de vodka na garrafa. Este é o último ano da minha vida.

Meus 27 anos foram tranquilos, para dizer o mínimo. Por que eu faria planos a longo prazo ou começaria relacionamentos significativos quando sei que eles simplesmente não durariam? A pior parte deste último ano foi simplesmente não saber quando minha morte iminente chegaria - poderia ter sido em qualquer dia dos últimos 364.  Poderia ser no próximo minuto.

Devo admitir que me tornei reclusa, minhas janelas sempre fechadas, fechaduras adicionais instaladas na minha porta, sempre deixava o telefone tocar e cair no correio de voz e escondia-me debaixo das cobertas com as luzes apagadas sempre que batiam à minha porta. Estoquei alimentos em conserva e várias produtos que precisaria para passar o ano. Fiquei tão paranoica que até cobri minha caixa de correspondência, enfiando uma toalha no espaço da porta da frente. Eu não queria nada do mundo exterior.

Cair a face da terra não me importava muito, de qualquer maneira eu não tinha mais amigos ou família. Minha mãe e minhas duas irmãs estavam mortas, e meu pai me deserdou quando o contei que era lésbica depois da morte de minhas irmãs. Me mudei e cortei contato logo depois.

Na noite anterior ao meu vigésimo sétimo aniversário, comecei a receber telefonemas estranhos de um número bloqueado. Eu sempre fiquei ansiosa com chamadas, então deixava tocar. O número continuou ligando pelo menos uma vez por dia durante o ano passado. Então, as batidas começaram, a princípio uma vez por semana, mas só pioraram - cada vez mais frequentes e mais frenéticas. Convencida de que tinha algo a ver com a minha morte inevitável, enlouqueci pensando no visitante desconhecido, especialmente na semana passada.

Me preparei para dormir ontem à noite, sabendo que amanhã - hoje, agora - era o dia em que completaria 28 anos. Meu tempo havia acabado e procurei conforto em uma garrafa de licor. Não encontrei. Caí na cama, bêbada e delirante, e rezei para que a manhã não chegasse. Finalmente consegui dormir, mas era um sono inquieto e insatisfatório. O tipo de sono em que você sente que tem olhos te observando.

É por isso que eu acordei rapidamente quando a porta do meu quarto se abriu de manhã cedo, antes do primeiro sinal de luz. Despertei abruptamente na minha cama, olhando ao redor do meu quarto em pânico frenético. A princípio não vi nada fora do comum, exceto a porta ligeiramente entreaberta. Um olhar mais atento revelou algo que eu perdi, algo que fez meu coração disparar, me congelou no meu âmago. Duas figuras escuras estavam no espaço vazio atrás da porta entreaberta, imóveis, quase como um par de estátuas.

Esperando. Assistindo. Sem palavras.

"Me deixa... Me deixe em paz." Eu chiei, incapaz de me mover, paralisada pelo poder de suas presenças.

Ao invés disso, as figuras sombrias saíram de trás da porta, rastejando lentamente em minha direção, no escuro. Eu sabia que esse seria certamente o fim da minha vida, o cumprimento da minha maldição, se eu não agisse. De repente, relembrando as aulas de autodefesa em minha mente, acendi minha lâmpada de cabeceira para atordoar os intrusos e estendi minha mão por baixo da mesa de cabeceira para puxar a faca que eu havia colado lá há um ano - um vigésimo sétimo presente de aniversário para mim mesma.

Assim que a luz inundou a sala, eu sabia que a lâmina não teria utilidade.

Meus intrusos não eram um par de assassinos - não humanos, pelo menos. À luz amarela da lâmpada, discerni as identidades das figuras sombrias. Eram minhas irmãs. Joy estava ao pé da minha cama, pálida, no mesmo vestido preto conservador em que a encontrei morta anos atrás, o que ela escolheu para o funeral de Moira. Sua cabeça pendia em um ângulo reto com os ombros, o pescoço grotescamente dobrado de seu enforcamento.

Moira estava alguns passos atrás dela. Eu só podia supor que era ela, considerando a gravidade de seus ferimentos - ela levou um tiro na cabeça tão brutal que não fomos autorizados a vê-la após sua morte, tão terrível que a desfigurou totalmente. A metade inferior do rosto havia sido reduzida a farrapos, o maxilar caído preso apenas de um lado, a boca mutilada, com apenas alguns dentes cravejados aleatoriamente por toda aquela bagunça.

"Por quê vocês estão aqui?" Eu chorei, juntando meus joelhos no peito e segurando-os apertados. "Vocês... vocês estão aqui para me levar?"

Joy fez uma fraca tentativa de balançar a cabeça, o lado do rosto apenas roçando fracamente contra o ombro. Ela esperou alguns momentos antes de colocar um dos pés na frente do outro, movendo-se para o lado da minha cama. Quando recuei instintivamente, ela diminuiu o passo. Moira seguiu atrás dela até que ambas estavam ao meu lado.

Choraminguei quando Joy se inclinou sobre mim, sua cabeça balançando para a frente repentinamente com o movimento, o pescoço estalando terrivelmente. Com os lábios roçando no meu ouvido, ela sussurrou:

- Ela... Ela tentou. Sua voz era forçada e ofegante, como se suas cordas vocais estivessem quase rasgadas.

- Como assim, Joy? Implorei.

Seus lábios se moveram contra meu ouvido mais uma vez, mas nenhum som saiu, apesar de um esforço árduo. Moira tento responder à minha pergunta, mas só conseguiu espirrar sangue da ferida aberta em seu rosto, ejetando um dos dentes restantes no chão enquanto seu maxilar oscilava precariamente, mal aguentando. Ela levantou uma mão, lentamente a curvando antes de bater os dedos furiosamente contra a cabeceira da minha cama.

Os sons incessantes me assustaram, forcei meus olhos a se fecharem e puxei meus joelhos ainda mais contra meu peito. As batidas de Moira pareciam apenas aumentar de volume, pareciam durar para sempre, até - finalmente - parar. Abri os olhos e descobri que as minhas duas irmãs haviam desaparecido, que a luz do início da manhã começara a se espalhar pelas ripas das minhas cortinas. Já passava das seis horas da manhã de 7 de junho, dia do meu vigésimo oitavo aniversário.

Nasci às 9h26 - quando soube da maldição, imaginei meu último suspiro nesse horário. Eu só tinha três horas e dezesseis minutos de vida... Isso se eu tivesse tanto tempo. Colocando minhas cobertas sobre a cabeça, resolvi passar o resto da minha vida dormindo. Imaginei que preferia morrer tranquilamente dormindo, como minha mãe, do que sofrer um destino semelhante ao de minhas irmãs.

Meus planos foram interrompidos, no entanto, por aquela maldita batida na porta. A interrupção geralmente não acontecia tão cedo pela manhã. Decidi inicialmente ignorar o estranho visitante, mas empurrei os cobertores logo depois, quando uma certa sensação de familiaridade me atingiu. As batidas na porta me lembraram demais as batidas de Moira em minha cabeceira.

Facilmente poderia ser um truque da maldição, mas algo me obrigou a me aproximar da porta.
"O que você quer?" Falei por trás da barreira, agarrando-me à relativa segurança que ela proporcionava.

A resposta veio da voz de um homem desconhecido. "Eu só tenho uma carta para você, senhorita."

"Apenas... Apenas deslize-a por baixo da porta e, por favor, saia", disse, usando meu pé descalço para remover a toalha que costumava bloquear o pequeno espaço abaixo dela.

Ele depositou um envelope amarelo brilhante embaixo da porta, como eu pedi. Esperei calmamente pelo som de passos retrocedendo antes de calçar um par de luvas para pegar a carta. Foi-me endereçado simplesmente pelo primeiro nome, sem endereço. Cuidadosamente, abri o envelope para revelar um cartão de aniversário. Eu não recebia um há anos.

Letras brilhantes na frente formavam a frase: "Filha, você tem 27 anos!" Zombei da piada doentia. Eu não recebia um cartão de aniversário desde criança, e meu pai nem conseguia acertar o dia do meu aniversário. Acho que ele nem sabia meu endereço. A abri cautelosamente para ler a mensagem de dentro.

Laura,

Se você está lendo isso, seu pai me matou. Não acredite no que ele ou a polícia dizem - não fui alvo de um ataque aleatório, não morri de causas naturais e certamente não cometi suicídio. Eu nunca te deixaria se tivesse  escolha.

A verdade é que… Eu morri porque descobri a verdade por trás da maldição da minha família e, tolamente, contei ao seu pai. Ele esteve envolvido nisso o tempo todo, plantado em minha vida por alguma sociedade secreta para me erradicar. Para nos erradicar. O que temos não é uma maldição, é um presente - um presente de imenso poder. O poder de curar, mas também o poder de machucar.

Chegamos ao nosso poder aos 28 anos, um número associado à independência, liderança e auto-suficiência. Uma época em que podemos lidar com a responsabilidade que tal poder inevitavelmente trás. É um número forte e te trará grande força, embora você sempre tenha sido uma garota forte.

Espero que você tenha chegado tão longe, mas ao mesmo tempo... Sei que você conseguiu. Você sempre foi uma garotinha mal-humorada nos quatro anos em que tive o prazer de conhecê-la, de amá-la. Você nunca deixa ninguém lhe dizer o que pensar ou fazer - especialmente seu pai.

Feliz aniversário, eu amo você.

Mamãe

Fechei o cartão suavemente, pensando nas palavras tensas da minha irmã - minha mãe tentou avisá-las, mas elas não ouviram. As peças do quebra-cabeça se encaixaram no lugar... Meu pai deve ter assassinado Moira, e Joy acabou com sua própria vida com tristeza e com a crença de que ela seria inevitavelmente a próxima.

No momento em que escrevo isso, só tenho duas horas e trinta e dois minutos até completar vinte e oito anos. Durante a última hora, já comecei a sentir o poder fluindo em meu corpo, eletrizante enquanto percorre minhas veias. Vou com a toalha para a reposicionar novamente embaixo da porta, e ela cai da minha mão, deslizando sozinha pelo chão.

Eu preciso me manter segura até as 9:26. Estou planejando surpreender meu pai com uma visita no meu aniversário.

Creepypasta traduzida do(a) autor(a) hercreation

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Minha irmã e eu tentamos pegar a fada dos dentes - Um Aviso

Minha esposa e eu nunca teremos outro filho

Meu sogro está preso por tentar me matar, agora sei que ele estava tentando ser bondoso