Eu sou a "solteira gostosa na sua área"



Se você já visitou sites pornôs, provavelmente conhece os anúncios de "solteiras gostosas na sua área". Você também deve saber o quão falso eles são - as mulheres nas fotos não estão realmente perto de você, são apenas fotos de prostitutas estrangeiras. Você provavelmente conhece tudo isso suficientemente bem para não perder seu tempo clicando nesses anúncios.

Se você, no entanto, clicar em um deles, uma janela de bate-papo se abrirá e você poderá escolher com qual garota você quer conversar. No início, o bate-papo é gratuito, mas em breve é necessário se inscrever. Então, você terá que pagar por cada minuto conversando com a garota de sua escolha.

Eu sei disso porque eu era uma dessas garotas.

Seis anos atrás, eu era uma estudante que vivia em constante falta de dinheiro. Minha amiga Shannon me apresentou uma maneira super fácil de ganhar uma grana. "Não é como se você estivesse se prostituindo ou algo do tipo. É completamente anônimo, eles não sabem com quem estão conversando. Você só precisa fingir que é Nikki ou Samantha. Vai ser divertido! E a empresa paga muito bem, você pode trabalhar em casa e escolher sua carga horária semanal. Tudo o que você precisa fazer é ter conversas picantes com algumas pessoas que você nunca vai se encontrar pessoalmente".

No começo, não pensei muito e recusei logo. Mas, comecei a me perguntar se alguém realmente acreditava que as "solteiras gostosas na sua área" eram reais. Claro que não. Era apenas uma fantasia. Era como escrever ficção erótica em tempo real e ser pago por isso. Então deixei Shannon me inscrever.

O sistema era simples. O primeiro bate-papo, o gratuito, era um bot. Depois do cadastro e do pagamento o usuário passa a conversar com pessoas reais, nós. Nosso trabalho era tentar mantê-los online o maior tempo possível.

No começo foi divertido. Eu me tornei realmente criativa ao interpretar Sally (uma menina tímida da faculdade que estava desesperada por dinheiro), Kaylee (uma menina nerd de óculos, extremamente safada) e Rhonda (Uma garota negra curvilínea, compreensiva e maternal).

Foi divertido e logo deixei de sentir vergonha. Claramente meus clientes estavam se divertindo, e desde que eu permanecesse anônima para eles, não via risco de arruinar minha futura carreira -eu definitivamente deixaria esse trabalho fora do meu currículo. O dinheiro era surpreendentemente bom, como Shannon havia me dito, e como eu conseguia definir meu horário de trabalho, parecia ser o serviço perfeito para alguém como eu, que também tinha que estudar muito.

É óbvio que também havia desvantagens. Como você pode imaginar, alguns caras não eram gentis. Eu definitivamente não era virgem, mas nesse trabalho eu tinha de explorar algumas coisas que eu nem sabia que existiam. Havia  homens excessivamente violentos, que queriam ferir suas parceiras ou até mesmo serem machucados. Também tinha aqueles que queriam que eu fingisse ser uma criança de 13 anos. Outros caras queriam coisas ainda mais doentias que eu não vou contar aqui. Escrevi isso pois quero quero que você saiba que nem tudo eram flores, sol e arco-íris. Alguns bate-papos me deixaram muito desconfortável, e às vezes fiquei em dúvida se deveria abandonar tudo ou continuar. Mas continuei, dizendo a mim mesma que era tudo apenas um jogo inofensivo, um caminho para os caras realizarem suas fantasias. Era apenas conversa, eles não iriam ferir ninguém.

Quanto mais eu conversava com eles, mas fácil tudo se tornava, e logo peguei a prática.  Para minha surpresa logo me peguei  batendo um papo casual sobre facas e chutes em sacos. Depois de um ano nesse trabalho, raramente algo me deixava surpresa. Basicamente havia três tipos de clientes: a grande maioria que queria apenas uma conversinha suja comum, o solitário, que tinha necessidade de um amigo ou um terapeuta (geralmente só queria falar sobre coisas comuns do cotidiano) e os extremamente pervertidos. Aprendi rápido a lidar com todos eles .

No entanto, lembro perfeitamente quando um usuário realmente estranho veio conversar comigo. Ele não parecia se encaixar em nenhuma das categorias acima. Ele realmente não queria falar sobre sexo, mas ele também não se sentia como um dos caras solitários. É muito difícil descrevê-lo, então estou tentando lembrar de alguns dos nossos primeiros bate-papos. Ele se identificava como "O Pescador". Ele sempre quis falar com "Rhonda".

Eu: Oi, docinho. Meu nome é Rhonda, como você está?

Ele: Fale comigo.

Eu: Okayyy... O que você tem em mente?  ;)

Ele: Apenas fale comigo. Eu não suporto essa casa de merda. Não aguento essas malditas vozes. Apenas diga qualquer coisa.

Eu: Bem... Você quer fazer o quê? Está muito quente aqui, ;). Quer saber o que estou vestindo?

Ele: Não! Não. Apenas... fique aqui comigo. Por favor.

Eu: Ok, querido. O que houve? Está tudo bem?

Ele: Não, não estou bem. São essas pessoas. Eles são tão barulhentos! Não consigo mais suportar.

Eu: Então... você tem colegas de quarto barulhentos?

Ele: Sim! Eu só quero silêncio. Só quero meu silêncio.

(Neste ponto, eu estava realmente confusa, mas continuei a conversa.)

Eu: Talvez você deva conversar com eles. Fale que você precisa de alguma privacidade.

Ele: Eu não posso me livrar deles. Há sempre alguém.

Foi assim. Logo pensei que ele não era mentalmente saudável. As pessoas loucas eram bastante raras no bate-papo, mas não completamente inexistentes. Não me sentia qualificada como terapeuta, mas geralmente eu fazia o meu melhor para alegrá-los.

O pescador continuou voltando. Sempre o reconhecia pelo jeito que escrevia. Ele permanecia no chat durante horas (naquela época comecei a me sentir mal novamente, o homem estava claramente doente e estava gastando todo seu dinheiro em um site de pornografia), geralmente falando sobre querer silêncio e reclamando das pessoas barulhentas em sua casa. Comecei a pensar que essas pessoas não existiam, e que eram frutos da imaginação dele.

O pescador tornou-se um cliente tão assíduo que eu quase não tinha tempo para mais ninguém. Ele sempre reservou Rhonda por horas seguidas. Parecia também que ele nunca conversava com outras garotas, apenas eu -mesmo quando elas estavam se passando por  Rhonda ele de alguma forma sabia que não era eu e se desconectava, dizendo "Você não é Rhonda." Shannon começou a brincar que ele estava loucamente apaixonado por mim, mas não vi nada engraçado na situação. Meu trabalho já não era mais divertido, eu me tornara uma terapeuta pessoal. Tentei perguntar ao meu chefe se eu podia não mais me conectar como Rhonda, mas o Pescador estava trazendo muito dinheiro e meu chefe insistiu que eu continuasse.

Então continuei. E para meu próprio horror, percebi que comecei a desenvolver algum tipo de sentimento em relação a ele. Não um sentimento romântico, nada disso. Mas eu me perguntava como ele estava. Eu acho que você não pode passar horas e horas conversando com alguém sem desenvolver algum tipo de conexão. Mas, ao mesmo tempo, conversar com ele sempre me trouxe um sentimento de desconforto.

Esta é uma das últimas conversas que tive com ele:
Ele: Eu não sei como me livrar deles. Não há saída. Só quero que eles se afastem.
Eu: Ouça, querido, não acho que essas pessoas que você fala... Eu não acho que elas são reais.

Ele: Eles não são reais?

Eu: Não, acho que você os inventou. E se eles estão na sua cabeça você pode simplesmente parar de pensar neles e eles irão desaparecer.

Ele: Eu posso fazê-los desaparecerem?

Eu: Acredito que você pode.

Ele: E é isso que você quer que eu faça, Rhonda? Fazer com que desapareçam?

Eu: Se isso te deixar feliz, querido.

Ele: Você está certa. Eu posso me livrar deles. Posso fazê-los desaparecer. Eu posso fazer isso. Obrigado, Rhonda. Eu amo você, Rhonda.

Eu: Amor é uma palavra muito forte, querido.

Ele: Vou fazê-los desaparecer agora.

Ele desconectou. Foi o menor tempo que ele já passou falando comigo. A conversa me deixou estranhamente preocupada. Você conhece esse sentimento? Quando sente que fez algo terrível, mas não pode realmente identificar o que é? Eu estava exatamente com esse sentimento.

Mais tarde, na mesma noite, ele se conectou novamente. Foi a última conversa que tive com ele. E também foi a última conversa que tive antes de sair do trabalho, desisti de imediato.

Ele: Rhonda...  O que eu fiz? O que é que você fez? Por que você me disse para fazer isso?

Eu: O quê? Do que você está falando?
(Fiquei tão assustada que me esqueci completamente de desempenhar o papel)

Ele: Eu os matei... Como você disse que eu deveria fazer.

Eu: Não entendo.

Ele:  Eles não pararam de falar. E depois não pararam de gritar. E continuei até pararem. E agora há silêncio... Agora, finalmente, está tudo silencioso.

Eu: Isso está me deixando realmente desconfortável. O que é que você fez?

Ele: Eu os matei como você disse que deveria. E agora há sangue em todos os lugares. Eu matei minha esposa e meus filhos. Isto é tudo culpa sua.

Eu: Pare com isso.

Ele: É culpa sua. Você fez isso. E você pagará. Você vai pagar, Rhonda! Eu vou encontrá-la e eu vou fazer você pagar por isso.

Eu: Estou indo agora.

Ele: Não tente escapar. Isto é culpa sua. Você me fez fazer isso. Este foi o seu plano o tempo todo.

Fechei a página. Liguei para meu chefe e para Shannon, e disse que queria sair do site. Contei tudo o que aconteceu e disse que, em nenhuma circunstância, eles poderiam dar minha identidade a alguém. Eu estava realmente entrando em pânico, e Shannon teve que vir até minha casa para me acalmar. Ela me assegurou que não havia como ele saber quem eu era. Mesmo que ele fosse um tipo de hacker, meu nome real não estava em nenhum lugar do site.

Meu chefe também assegurou que a empresa era muito rigorosa quanto ao anonimato de seus funcionários. De vez em quando, alguns usuários queriam saber quem eram as pessoas por trás da tela, mas a empresa nunca disse nada. Tudo por razões de segurança, e porque também não queriam quebrar a ilusão dos personagens. Meu chefe garantiu que eu estava perfeitamente segura e lamentou minha desistência. Ele perguntou se eu poderia ficar e não logar mais como Rhonda,  mas saí mesmo assim.

Eu não conseguia parar de pensar no Pescador. E se ele realmente havia matado alguém? Ou tudo não passava de uma piada doentia? Shannon disse que provavelmente era uma brincadeira. Acompanhei as notícias, mas não houve assassinatos compatíveis com os descritos por ele. Pensei em ir à polícia, mas, novamente, não sabia absolutamente nada sobre o homem. De repente, ocorreu-me que ele poderia estar em qualquer lugar do mundo. Talvez ele não estivesse nem no mesmo país que eu. Ele poderia ser um chinês, um irlandês ou qualquer outro.

Mas de uma coisa eu tinha certeza: Se o Pescador realmente tivesse matado alguém, escondeu suficientemente bem para eu não ter notícias algumas de onde eu estava.  Tentei pesquisar no Google "família assassinada" naquele dia, mas não encontrei nada. Shannon continuou trabalhando no site e perguntei se o Pescador apareceu, mas ele pareceu ter ido embora. Fiquei feliz por isso ter finalmente terminado, e com o passar do tempo, segui em frente.

Eu realmente não voltei a pensar no Pescador por anos. Mas, ontem aconteceu algo que fez todas as minhas lembranças retornarem.

Depois de um longo dia no trabalho, decidi ir ver um filme sozinha. Eu só queria passar um tempo só, desde que terminei com meu namorado há algumas semanas tudo tem sido uma loucura. Escolhi um filme que havia estreado a semanas para que a sessão não estivesse cheia. Eu tive sorte - a sala estava quase vazia quando entrei. Escolhi o lugar que considero o melhor (última fileira, no meio) e comecei a tirar a jaqueta. Logo depois vi um homem caminhando em minha direção.

"Este lugar está livre?" Ele perguntou. Pelo sotaque percebi que ele era estrangeiro. Estava tão escuro no cinema que não consegui enxergar seu rosto, então não distingui sua etnia ou idade.

Assenti com a cabeça e ele se sentou. Fiquei um pouco irritada, o cinema estava quase vazio, e eu realmente gostaria de ficar sozinha. Por que ele teve que se sentar ao meu lado? Havia bastante espaço. E então ele começou a falar novamente.

"Você gosta de filmes de terror?"

Como eu realmente não estava com vontade de fazer novos amigos (e eu senti como se ele estivesse invadindo meu espaço), expliquei educadamente que queria ficar sozinha. Ele não respondeu, mas pegou um pedaço de papel do bolso e escreveu  algo que pensei que era o número de seu telefone. Ele então colocou o papel no meu bolso e se afastou. Foi estranho. Ele não foi para outro assento, simplesmente saiu da sala. Ele não ficou para ver o filme.

Fiquei um pouco irritada com este encontro, mas logo esqueci tudo quando o filme começou. Apenas quando cheguei em casa me lembrei do bilhete. Tirei o papel do bolso para jogar fora, mas quando o li, percebi que não havia número de telefone.

Havia apenas este texto:
"Eu encontrei você, Rhonda. E eu vou encontrá-la novamente."

Creepypasta traduzida do(a) autor(a) MarinaMonster

Comentários

  1. Adoro essas histórias q terminam num suspense legal, sem parecer inacabada...

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  2. Que desfecho fraco! poderia ter terminado com ele culpando ela e prometendo ir atras dela.
    teria deixado um gosto maior de mistério.


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